domingo, 29 de março de 2009

O stand-up de Machado de Assis

(...) Quer dizer que em setembro agora faz um século que eu morri? Bem que estranhei o silêncio prolongado: achei que estava era faltando assunto na última reunião da Academia Brasileira de Letras (risos). Aliás, falando na Academia, depois que aquele cirurgião plástico e aquele político maranhense se elegeram lá é que fui ver que meus primeiros sonetos não foram a coisa mais execrável que já criei (risos). Pensando bem, essa é a melhor maneira de um mulato ingressar numa academia sem recorrer ao sistema de cotas: fundando uma! (risos) E não, não procede a tese de que escrevi Memórias Póstumas de Brás Cubas para inaugurar o realismo brasileiro. Na verdade foi laboratório para poder tentar o circuito de stand-up comedy cem anos depois de morto (risos). É que eu tenho que defender uns caraminguás, ora: o que vocês fariam se sua obra caísse no domínio público? (risos) E já estou pressentindo um ou outro aí na platéia impaciente para saber se afinal de contas aquela minha mais famosa personagem foi fiel ou não. Não vejo o porquê do mistério: evidente que foi! O cão é o melhor amigo d... Ah, não é do Quincas Borba que vocês falavam?(risos) E, sim, ouvi dizer que o Harold Bloom me incluiu entre os maiores escritores de todos os tempos. Bom, lista feita por um judeu e que inclui um mulato não é lista: é cardápio para skinheads (risos). Como? O que acho dos filmes baseados em minhas obras? Olha, vi todos e se reforçou mais ainda aquela certeza sobre meus primeiros sonetos, sabe? (risos) Ah, e uma recomendação: quando seus filhos forem fazer pesquisa escolar sobre aquele consagrado membro da ABL conhecido como bruxo e que ostentava um cavanhaque grisalho, expliquem que não, não se trata do Paulo Coelho! (...)

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